Em um cenário onde a Disney aposta em fórmulas seguras, a indústria japonesa ganha relevância global ao abraçar nichos, temas complexos e uma diversidade de estilos que o gigante do ocidente parece ter esquecido, aponta executivo.
Em uma declaração que captura perfeitamente o atual momento da animação global, um produtor-executivo da Toei Animation, o lendário estúdio por trás de Dragon Ball, articulou o que muitos fãs e analistas sentem há tempos: a indústria de animes japonesa está, em termos de relevância cultural e criatividade, “vencendo” a Disney. A afirmação não é apenas uma provocação, mas um diagnóstico preciso de uma mudança de guarda impulsionada por um fator decisivo: a liberdade criativa.

Segundo o executivo, o segredo do sucesso explosivo dos animes em escala global reside na confiança que os estúdios japoneses depositam em seus criadores. Eles são encorajados a desenvolver histórias para públicos específicos e apaixonados, sem a pressão de diluir a mensagem para agradar a todos os demográficos simultaneamente. O resultado é um oceano de diversidade.
Um Universo de Gêneros Contra um “Estilo da Casa”
Basta olhar para os sucessos recentes para entender o ponto. O cenário do anime em 2025 oferece desde a ação sombria e visceral de Jujutsu Kaisen e Chainsaw Man, passando pela melancolia e aventura de Frieren e a Jornada para o Fim, até as comédias românticas como Komi Can’t Communicate. Existe um anime para cada nicho, cada idade e cada sensibilidade, tratando de temas como morte, política, ansiedade social e filosofia com uma profundidade que raramente se encontra na prateleira do gigante americano.

Do outro lado, a Disney, embora ainda seja uma potência de produção com qualidade técnica impecável, tem enfrentado críticas por uma aparente aversão ao risco. Nos últimos anos, sua estratégia tem se apoiado fortemente em remakes live-action, sequências de franquias estabelecidas e animações que, apesar de belas, muitas vezes seguem uma fórmula narrativa e um “estilo da casa” que se tornaram previsíveis para uma parcela do público. A necessidade de criar um produto seguro, que funcione em todos os mercados e para todas as famílias, parece ter limitado sua capacidade de inovar e surpreender.
Não é uma Batalha, é uma Bifurcação de Caminhos
O termo “vencer” pode não ser o mais preciso. O que estamos testemunhando é uma bifurcação no caminho da animação. A Disney continua a ser a mestra incontestável do entretenimento familiar de apelo universal, um mercado que ela praticamente inventou e ainda domina. Ninguém produz um blockbuster para todas as idades como a casa do Mickey.
No entanto, a indústria de animes capturou o zeitgeist cultural ao preencher o vácuo deixado pela Disney, conquistando o público adolescente e jovem adulto que anseia por narrativas mais longas, serializadas e tematicamente complexas. A ascensão meteórica de plataformas como a Crunchyroll, que se tornou um fenômeno global, é a prova cabal da existência desse mercado massivo.

A declaração do produtor de Dragon Ball serve, portanto, como um poderoso lembrete. Em um mundo de conteúdo infinito, a autenticidade e a coragem de servir a um público dedicado com histórias ousadas podem ser mais valiosas do que a tentativa de criar um produto que agrade a todos, mas que, no processo, não apaixona profundamente ninguém. Enquanto a Disney busca a magia na universalidade, o anime a encontra na especificidade, e hoje, é essa especificidade que ressoa mais alto no palco global.